quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Minhocofiltro na Grota

Data : 09/01/2016 – Sábado
Local: Grota do Surucucu – Casa da Elaine Conceição no Alto da Grota.

Em continuidade à temática do saneamento alternativo levantada no encontro anterior (5/12/2015), realizamos um mutirão para construção e instalação do protótipo de um vermifiltro, sistema ecológico de baixo custo e alternativo para o tratamento de esgoto em pequena escala.


O desenho desse protótipo baseou-se no modelo desenvolvido pela Fluxus Design Ecológico, elaborado por Guilherme Castagna,  como uma tecnologia socioambiental para tratar efluentes sanitários. Segue o desenho do Projeto do Vermifiltro cedido pelo Guilherme e que serviu de base para o protótipo do nosso Vermifiltro ou Minhocofiltro, como preferimos chamar. 

Projeto do Vermifiltro elaborado pela Fluxus Design Ecológico.
O Vermifiltro funciona basicamente como um filtro por gravidade, sendo a camada superior como uma composteira de minhocas (contendo solo do local, terra preta e minhocas vermelhas) para reter todo o material sólido e transforma-lo em composto (húmus). As camadas inferiores são sobrepostas com areia grossa, pedrisco e brita para filtrar o liquido restante e gerar um efluente que possa ser aproveitado na irrigação de frutíferas ou num de circulo de bananeiras.  

Alguns estudos realizados na Austrália (Sinha 2008, 2010) e Chile (Soto 1998) concluíram que o sistema de Vermifiltro, tem uma grande capacidade para tratar esgotos domésticos (águas negras), com uma redução de até 90% dos principais parâmetros como DBO (Demanda Bioquimica de Oxigênio) e DQO (Demanda Química de Oxigênio), além de baixíssimo custo para implementação e manutenção. Outras vantagens evidenciadas nos estudos foram: a não geração de odores fétidos e lodo, como em fossas sépticas e Estações de Tratamento de Esgoto (E.T.E), ao invés do lodo, gera composto (humus) que pode ser diretamente aplicado no solo.

O protótipo do minhocofiltro desenvolvido, ao invés de utilizar as mesmas medidas e camadas de material filtrante do projeto da Fluxus, foi adaptado para uma bombona de 200 litros, com as camadas inferiores sendo de aréola, areia lavada e brita #1. Entre as camadas foram utilizados pedaços de TNT (tecido), materiais, disponíveis no pequeno e único bazar de materiais de construção localizado dentro da comunidade da Grota.

Escadaria para o alto da Grota
Todos os materiais - bombona (200L), 10 sacos de brita (90kg), 3 sacos de aréola e 3 de areia (60kg) - além de canos, conexões, ferramentas e as minhocas subiram os 156 degraus de escada para chegar no alto da Grota, a casa da Elaine.

Café de ideias
Realizamos um breve café de ideias para um repouso da escadaria, organização da montagem e divisão de tarefas com a participação de duas Ecomagentes e outros quatro membros do Instituto Ambiente em Movimento. Dividimos em duas equipes para revezarem as tarefas na construção e instalação do minhocofiltro e na montagem do circulo de bananeiras que receberia os efluentes do minhocofiltro.

No levantamento realizado anteriormente foram observadas três saídas de água na casa: uma direta do vaso sanitário (água negra) e as outras de chuveiro e pia (águas cinzas). O terreno no entorno da casa, por ser inclinado, facilitou o direcionamento das tubulações para entrada no minhocofiltro. A bombona foi fixada junto a uma árvore (jaqueira) e o circulo de bananeiras mais abaixo, próximo à outra árvore frutífera (mangueira) com grandes raízes que seguram o solo inclinado. 

Antes da instalação
Para reduzir o excesso de água na camada superior, definimos que apenas a água negra, da saída do sanitário, iria para essa camada da composteira de minhocas e as saídas das águas cinzas (chuveiro e pia) iriam direto para a camada inferior (areia). Utilizamos um redutor de 100/50mm, além de curvas e Tee e furos para melhor espalhar a entrada do efluente negro na camada da composteira. O mesmo nos canos de 40mm para a entrada das águas cinzas e saída (50mm) inferior do efluente na camada de brita #1.

Resultado final
O circulo de bananeiras foi adaptado para o formato de meia lua devido à inclinação do terreno. Foram utilizadas três mudas de bananeiras realocadas do próprio terreno da casa e plantadas nas bordas da meia lua, além de cascas de cocos e pedaços de entulho e cascalho no interior da meia lua para receber o efluente do minhocofiltro.

Desenho esquemático do minhocofiltro
 A instalação completa terminou no fim do dia. Nos dias posteriores, o sistema foi testado e aprovado para o uso. Será necessária apenas a substituição do cano (50mm) que liga a saída do minhocofiltro para a meia lua de bananeiras por uma borracha (mangueira comum), uma sugestão da própria moradora para evitar a quebra do cano devido à circulação esporádica de animais domésticos pelo terreno. De qualquer forma, mantemos contato direto com a Elaine para acompanhar o funcionamento do minhocofiltro e no caso de dúvidas e eventuais imprevistos providenciarmos assistência.


Resultado final da instalação do minhocofiltro e meia lua de bananeiras. 


O minhocofiltro mostrou-se simples, de baixo custo e viável para tratar o esgoto em pequena escala. Poderá ser uma boa alternativa para incluir em planos e propostas de saneamento em comunidades de baixa renda.

O próximo encontro do Projeto Ecomagente deverá ocorrer em meados de fevereiro (20/2) com a intenção de juntar o grupo para uma saída de campo embarcado pela Baía de Guanabara. Além de um passeio para agregar o grupo e planejarmos juntos novas atividades, servirá também como uma reflexão e sensibilização sobre a Baía de Guanabara, que recebe as águas sujas e não tratadas de boa parte da população que vive no seu entorno.     


Referencias

Sinha RK, Bharambe B, Chaudhari U (2008) Sewage treatment by vermifiltration with synchronous treatment of sludge by earthworms: a low-cost sustainable technology over conventional systems with potential for decentralization. Environmentalist 28:409–420- http://www98.griffith.edu.au/dspace/bitstream/handle/10072/23488/55348_1.pdf?sequence=1

Sinha RK, Sunita A, Krunal C, Chandran V, et al (2010) Vermiculture Technology: Reviving the Dreams of Sir Charles Darwin for Scientific Use of Earthworms in Sustainable Development Programs. published by Technology and Investment, Vol.1 No.3 - http://www.scirp.org/journal/PaperInformation.aspx?PaperID=2490

Soto MA and Toha J (1998) “Ecological Wastewater Treatment,” Advanced Wastewater Treatment, Recycling and Reuse, AWT 98, Milano, 14-16 September.


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Contribuição

Vinícius P. Palermo
Jan 2016

2 comentários:

  1. PARABENS PELO PROJETO SIMPLES E FUNCIONAL!

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  2. Boa tarde, queria por gentileza saber mais sobre o projeto pois, quero implementá-lo em minha região mas tenho umas dúvidas, tipo:
    Se as águas negras, com fezes, ficam na primeira camada e são resíduos mais sólidos, em quanto tempo eles de decompõem?
    Há um cálculo específico para número de moradores e demanda?

    obg e parabns p projeto...

    email: paulotribos88@hotmail.com

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