Impressões de uma visita a Grota do Surucucu.
No sábado, dia 6 de julho, logo após
nosso divertido encontro do Projeto ECOmAGENTE, quando abordamos o
tema de jogos colaborativos, combinei com um participante que também é agente
de zoonoses de Niterói para nos guiar em uma caminhada pelos quarteirões nos
quais é responsável pela prevenção e combate à animais vetores de doenças.
No inicio da caminhada, quando adentramos por
uma escadaria, como um corredor fronteiriço às casas, várias ideias e
motivações afloraram: o que nos espera? O que vamos observar? Jamais
faríamos essa caminhada sem um guia, conhecedor dos caminhos, dos moradores e
dos cuidados a tomar... De fato uma oportunidade para conhecer e registrar um
pouco mais da realidade local.
Adentramos em uma viela de terra batida e
perpendicular à rua Ronaldo G. Menezes, a concentração de casas diminui, a
viela acaba se transformando em uma trilha e mais parece caminharmos em uma
zona rural. Nosso guia mostra uma área de risco, onde algumas casas foram
derrubadas pela forte chuva de 2010 e bem próximas a outras que continuam com
moradores. Nessa trilha logo sentimos o fresco odor das águas cinzas e negras
que desciam por improvisados canais de drenagem, escavados na própria terra
para escoar morro abaixo o esgoto que vinha das casas e que estavam no entorno
da trilha. Pensamentos afloram... Caramba! Um tratamento bioséptico com ciclo
de bananeiras poderia ajudar e ainda envolveria um mutirão com os vizinhos...
Enfim, todo esse material mal abandonado se
transforma em lixo e atrai mais lixo, além de vetores e acabam se acumulando em
uma encosta. O homem sempre querendo se livrar facilmente de algo inútil e sem
valor para ele, daí surge o conceito de lixo. Acredito que somente em um
mutirão de limpeza conseguiria limpar aquela área, mas que deveria mobilizar e
envolver de forma cooperativa os próprios moradores. Desafio? Mais uma vez fico
a pensar como seria possível viabilizar uma coleta porta a porta para atender a
Grota?...

...Abro um parêntese...Talvez com o auxilio de um tratorzinho rebocando uma caçamba, trabalhando em conjunto com um agente ambiental (bem melhor que o termo gari comunitário) visitando as casas e orientando os moradores a deixar o material (lixo) em um coletor estrategicamente instalado ( exemplo daqueles suportes de ferro para os sacos de lixo e que ficam a um metro do chão, impedindo que sejam arrastados pela água da chuva ou rasgados por animais). Esta pode ser uma sugestão para ser estudada e melhor detalhada.
No caminho de volta a rua Ronaldo G. Menezes
encontramos um grupo de moradores que ficaram curiosos pela nossa caminhada com
o guia conhecido deles e logo interagiram querendo conhecer o nosso trabalho.
Um deles, noivo de uma das participantes do EcomAgente, já conhecia um pouco do
trabalho que fazemos e ficou motivado em colaborar de alguma forma. Junto com
outros moradores falaram que gostariam muito de fazer um reflorestamento em
algumas áreas da Grota e que estariam dispostos a ajudar. Ainda relataram que
fazem parte de um grupo que promove capoeira e outras atividades na comunidade.
Convidamos todos a participarem dos encontros que promovemos nas manhãs de
sábado no Colégio Duque de Caxias... Novos pensamentos afloram para aumentar a
interação... Quem sabe a apresentação da peça “Do inicio ao fim do mundo” ali
mesmo, no alto da comunidade?
Continuando a caminhada acompanhamos uma
senhora, moradora consciente, levando seu saco de lixo à outra caçamba – “PEV
do lixo doméstico”, localizada quase no topo da mesma rua. Essa senhora nos
disse que mora sozinha com o marido aposentado; perguntamos o quanto de lixo
produzia, respondeu que uma a duas sacolas por dia. Reclamou dos moradores que
deixam o lixo fora da caçamba e que as vezes encontra a caçamba transbordando
de lixo.
Em um ponto mais acima, encontramos um pequeno terreno baldio com a
mesma camuflagem de lixo e vegetação, mas desta vez com duas carcaças de
televisores antigos. Talvez algumas respostas para onde terminam aquelas
televisões pesadas, com tubo de imagem, que vem amplamente sendo substituídas
pelas TVs leves, de LED e Full HD, na maioria das casas. (Algumas destas TVs
mal descartadas já foram vistas em ruas, na Praia de São Francisco e inclusive
na Baía de Guanabara).
De volta à rua principal, passamos direto em
direção ao largo da Igrejinha, onde encontramos mais uma caçamba – PEV de lixo
doméstico e seguimos para conferir o local, na estrada da Garganta, onde os
agentes de zoonoses estão fazendo um trabalho continuo para eliminação de
roedores (camundongos e ratazanas). O local é uma encosta cheia de buracos, com
erosão aparente, algumas casas em área escancarada de risco e fronteiriço à
estrada da Garganta, onde na calçada encontra-se mais uma caçamba (PEV de lixo
doméstico). Ficam as perguntas: como gerir uma situação dessas? Quais as
soluções práticas e viáveis em longo prazo? Quais os envolvidos?
Sem respostas, seguimos no caminho de volta a Grota, não pela mesma rua,
com a intenção de descer até o ponto final do ônibus 32 e seguir pela Rua
Albino Pereira. Depois de passar por algumas vielas chegamos a um local, na
verdade um mirante, com uma vista panorâmica do vale da Grota, o bairro de São
Francisco, a enseada de Jurujuba, da Baía de Guanabara e ainda, bem ao fundo,
do Forte de Copacabana. Um privilégio de vista, impossível não parar e admirar.
Continuando a descida, já em uma viela com escadas e calçada de concreto
observamos as tubulações de esgoto de algumas casas ligadas a uma rede de
esgoto que passa por debaixo da calçada e vamos descendo acompanhando as
ligações através dos tampões (rede de esgoto) para tentar descobrir onde
terminaria.
O que observamos é que nas paredes do próprio
canal segue uma tubulação paralela levando água tratada para as casas. Claro
que fica a pergunta: não seria possível uma outra tubulação para escoar essa
mesma água depois de usada (ou seja, os esgotos das casas) e encaminha-la à
rede de esgoto do bairro de São Francisco para ser tratada na Estação de
Tratamento de Esgotos de Icaraí? Quais seriam as dificuldades e entraves?
Claro, não podia deixar de fechar esse relato sem enfatizar o óbvio, que
o desleixo ao longo do tempo na ocupação, gestão de resíduos e saneamento a
montante de um corpo hídrico urbano, neste caso do antigo rio Santo Antônio que
foi reificado na década de 1930 e transformado no canal de São Francisco, gera
consequências a jusante como a poluição das águas no Saco de São Francisco, bem
como lixo na própria praia de São Francisco após chuvas torrenciais. O que
diretamente afeta o ambiente marinho, sem falar na desvalorização do terreno e
perdas econômicas com o turismo e qualidade de vida, sem o lazer gratuito e democrático
que uma praia, com águas tranquilas e limpa pode proporcionar.
Contribuição:
Vinícius P. Palermo
Equipe Instituto Ambiente em Movimento
Filipe Machado; Jay Marinus; Lucas Sielski
Clarissa Pimentel
Colaboração especial: Luiz A. Santos Filho (Guia)
Julho de 2013
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