Local: Grota do Surucucu – Casa
da Elaine Conceição no Alto da Grota.
Em continuidade à temática
do saneamento alternativo levantada no encontro anterior (5/12/2015),
realizamos um mutirão para construção e instalação do protótipo de um
vermifiltro, sistema ecológico de baixo custo e alternativo para o tratamento
de esgoto em pequena escala.
O desenho desse protótipo
baseou-se no modelo desenvolvido pela Fluxus Design Ecológico, elaborado por Guilherme Castagna, como uma tecnologia socioambiental para
tratar efluentes sanitários. Segue o desenho do Projeto do Vermifiltro cedido
pelo Guilherme e que serviu de base para o protótipo do nosso Vermifiltro ou
Minhocofiltro, como preferimos chamar.
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Projeto do Vermifiltro elaborado pela Fluxus Design Ecológico. |
O Vermifiltro funciona
basicamente como um filtro por gravidade, sendo a camada superior como uma composteira
de minhocas (contendo solo do local, terra preta e minhocas vermelhas) para
reter todo o material sólido e transforma-lo em composto (húmus). As camadas
inferiores são sobrepostas com areia grossa, pedrisco e brita para filtrar o
liquido restante e gerar um efluente que possa ser aproveitado na irrigação de
frutíferas ou num de circulo de bananeiras.
Alguns estudos
realizados na Austrália (Sinha 2008, 2010) e Chile (Soto 1998) concluíram que o
sistema de Vermifiltro, tem uma grande capacidade para tratar esgotos
domésticos (águas negras), com uma redução de até 90% dos principais parâmetros como DBO (Demanda
Bioquimica de Oxigênio) e DQO (Demanda Química de Oxigênio), além de baixíssimo
custo para implementação e manutenção. Outras vantagens evidenciadas nos
estudos foram: a não geração de odores fétidos e lodo, como em fossas sépticas
e Estações de Tratamento de Esgoto (E.T.E), ao invés do lodo, gera composto
(humus) que pode ser diretamente aplicado no solo.
O protótipo do minhocofiltro
desenvolvido, ao invés de utilizar as mesmas medidas e camadas de material
filtrante do projeto da Fluxus, foi
adaptado para uma bombona de 200 litros, com as camadas inferiores sendo de
aréola, areia lavada e brita #1. Entre as camadas foram utilizados pedaços de
TNT (tecido), materiais, disponíveis no pequeno e único bazar de materiais de
construção localizado dentro da comunidade da Grota.
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Escadaria para o alto da Grota |
Todos os materiais - bombona
(200L), 10 sacos de brita (90kg), 3 sacos de aréola e 3 de areia (60kg) - além
de canos, conexões, ferramentas e as minhocas subiram os 156 degraus de escada
para chegar no alto da Grota, a casa da Elaine.
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Café de ideias |
Realizamos um breve café de
ideias para um repouso da escadaria, organização da montagem e divisão de
tarefas com a participação de duas Ecomagentes e outros quatro membros do
Instituto Ambiente em Movimento. Dividimos em duas equipes para revezarem as
tarefas na construção e instalação do minhocofiltro e na montagem do circulo de
bananeiras que receberia os efluentes do minhocofiltro.
No levantamento realizado
anteriormente foram observadas três saídas de água na casa: uma direta do vaso
sanitário (água negra) e as outras de chuveiro e pia (águas cinzas). O terreno
no entorno da casa, por ser inclinado, facilitou o direcionamento das
tubulações para entrada no minhocofiltro. A bombona foi fixada junto a uma
árvore (jaqueira) e o circulo de bananeiras mais abaixo, próximo à outra árvore
frutífera (mangueira) com grandes raízes que seguram o solo inclinado.
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Antes da instalação |
Para reduzir o excesso de
água na camada superior, definimos que apenas a água negra, da saída do
sanitário, iria para essa camada da composteira de minhocas e as saídas das
águas cinzas (chuveiro e pia) iriam direto para a camada inferior (areia). Utilizamos
um redutor de 100/50mm, além de curvas e Tee e furos para melhor espalhar a
entrada do efluente negro na camada da composteira. O mesmo nos canos de 40mm
para a entrada das águas cinzas e saída (50mm) inferior do efluente na camada
de brita #1.
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Resultado final |
O circulo de bananeiras foi
adaptado para o formato de meia lua devido à inclinação do terreno. Foram
utilizadas três mudas de bananeiras realocadas do próprio terreno da casa e
plantadas nas bordas da meia lua, além de cascas de cocos e pedaços de entulho
e cascalho no interior da meia lua para receber o efluente do minhocofiltro.
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Desenho esquemático do minhocofiltro |

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Resultado final da instalação do minhocofiltro e meia lua de bananeiras. |
O minhocofiltro mostrou-se
simples, de baixo custo e viável para tratar o esgoto em pequena escala. Poderá
ser uma boa alternativa para incluir em planos e propostas de saneamento em
comunidades de baixa renda.
O próximo encontro do
Projeto Ecomagente deverá ocorrer em meados de fevereiro (20/2) com a intenção
de juntar o grupo para uma saída de campo embarcado pela Baía de Guanabara.
Além de um passeio para agregar o grupo e planejarmos juntos novas atividades, servirá
também como uma reflexão e sensibilização sobre a Baía de Guanabara, que recebe
as águas sujas e não tratadas de boa parte da população que vive no seu
entorno.
Referencias
Sinha RK, Bharambe B, Chaudhari U (2008) Sewage treatment by vermifiltration with
synchronous treatment of sludge by earthworms: a low-cost sustainable
technology over conventional systems with potential for decentralization. Environmentalist
28:409–420- http://www98.griffith.edu.au/dspace/bitstream/handle/10072/23488/55348_1.pdf?sequence=1
Sinha RK, Sunita A, Krunal C, Chandran V, et al
(2010) Vermiculture Technology: Reviving
the Dreams of Sir Charles Darwin for Scientific Use of Earthworms in
Sustainable Development Programs. published by Technology and Investment,
Vol.1 No.3 - http://www.scirp.org/journal/PaperInformation.aspx?PaperID=2490
Soto MA and Toha J (1998) “Ecological Wastewater Treatment,” Advanced Wastewater Treatment,
Recycling and Reuse, AWT 98, Milano, 14-16 September.
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Contribuição
Vinícius P. Palermo
Jan 2016